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Foto do escritorInes Rioto

Pandemia alterou a forma de construir lares e residências para seniores em Portugal.


Semanário Expresso - 2020- Amadeu Araújo


Quartos mais espaçosos e com varandas generosas. Jardins e piscinas, áreas de serviços e lúdicas. Serviços hoteleiros e cuidados médicos. Este é o retrato dos novos lares de idosos e residências seniores que estão em construção

São idosos, procuram uma casa que sintam como sua e onde possam partilhar o quarto ou a suíte, usufruindo de um programa de animação sem deixar de conviver com outras pessoas. As novas residências para seniores parecem-se cada vez menos com os lares de idosos e dispõem de serviços e valências capazes de garantir uma vida autónoma e a prestar cuidados de saúde. E espaços para isolamento.

“Os novos lares e residências seniores fazem a síntese entre um hotel e um hospital, respondendo às necessidades de uma vida social, e ao mesmo tempo de isolamento.” A explicação é do arquiteto Francisco Aires Mateus, que está a desenhar as novas residências seniores dos belgas da Orpea, que há dois anos iniciaram em Portugal um plano de investimento em lares de idosos.

O arquiteto, que foi distinguido pela conceção do Lar de Idosos de Alcácer do Sal, explica que “a mobilidade reduzida daqueles que habitarão o edifício sugeriu que qualquer desvio deveria ser uma experiência variada e emotiva, para que a ideia de percurso se transforme em vida, e o tempo em forma”.

É o que está a acontecer no Cardal, onde a Misericórdia de Pombal está a desenvolver uma residência sénior “num terreno com 8000 metros quadrados, sendo que apenas 2000 serão de construção”, explica Octávio Lourenço. O arquiteto da Galbilec, empresa especializada em arquitetura para unidades de idosos e que já fatura 1,6 milhões de euros nesta área de negócios, conta que “a pandemia de covid-19 trouxe algumas alterações na forma de construir estes espaços, que são arquitetados para não parecer um lar”.

Zona Verde - 6mil m²

Com 36 quartos, “cada unidade de alojamento terá 18 m2, sem os acessos”. O desenho desta residência “foi concebido para reunir uma oferta inovadora, abandonando a ideia de ‘depósito de velhos’, e contam com áreas generosas nos quartos, varandas para o exterior que permitem o acesso a cadeiras de rodas e áreas generosas com boa exposição solar e franco acesso ao exterior”.

O novo paradigma contrasta com os antigos lares de idosos, “mais apertados, com quartos que nalguns casos são camaratas e onde precisamos mudar a funcionalidade”. Como sucede na Residência Sénior Senhora do Cardal, um investimento de € 2,5 milhões que “terá 6000 metros quadrados de zona verde, com uma vista ampla e desafogada, proporcionando uma maior qualidade de vida aos que lá viverão”. O edifício terá três pisos, entre quartos, áreas sociais e serviços médicos.

“O edifício está preparado para responder às novas exigências ditadas pela pandemia e será climatizado nas áreas sociais, com ventilação natural nos quartos”, revela o arquiteto. Octávio Lourenço, que tem ainda projetos em Mora e Vimieiro, reconhece que “há muito por fazer neste sector, com lares criados quando ainda não havia a atual legislação, mais exigente e que permitiu a existência de autênticas camaratas onde chegam a estar cinco idosos”.

Alberto Henriques, diretor de investimento da Savills, uma das principais consultoras imobiliárias, defende que os novos lares “fazem a síntese entre os serviços que prestam e o alojamento, há novos conceitos com ofertas para quem apenas precisa de uma vida acompanhada e os que procuram uma residência com cuidados médicos e há aqui um enorme potencial para o país poder aproveitar”. Para o responsável da Savills, existe liquidez e capital para esta área e investidores despertos para esta realidade.

Nem um hotel nem um hospital

O arquiteto Francisco Aires Mateus, que há 20 anos desenhou o primeiro lar em Grândola e que está a projetar três das novas unidades dos belgas da Orpea que estão a investir €200 milhões no país em negócios ligados à terceira idade, lembra que “as residências seniores são as novas casas dos idosos, de onde já não sairão e precisam de áreas amplas, com luz natural, locais de socialização. Edifícios que não são um hotel nem um hospital, respondendo por um lado à vida em comunidade e por outro à vida em solidão”. Para isso as acessibilidades “são desenhadas de forma a que cada movimento seja uma experiência diversificada e emotiva, transformando a ideia de percurso em vida, e o seu tempo em desenho”.

“A geriatria é de facto um sector complexo, que requer capacidades técnicas específicas, mas precisamos ter sempre presente que além dos serviços eficientes, incluindo a adaptação às novas preocupações como a covid-19, precisamos que estas unidades prestem cuidados humanos”, desabafa Francisco Aires Mateus, que todos os anos traz a Portugal os alunos do curso de arquitetura onde é professor, na Accademia di Architettura de Mendrisio, na Suíça. “Visitas que permitem perceber melhor as necessidades da população idosa”, diz o arquiteto.

Investimento de €2 milhões em Aldeia Beirã

Como nos Lentiscais, uma aldeia do concelho de Castelo Branco, onde surgiu uma nova residência sénior, com capacidade para 50 utentes e que está a criar 35 postos de trabalho diretos e indiretos, num investimento de €2 milhões. “São dois mil metros quadrados de área de construção, divididos entre um edifício central e cinco casas individuais, paisagisticamente bem enquadrado e implementado num local sobranceiro à aldeia, num terreno com uma área de seis hectares”, descreve Ana Carrega, diretora técnica da instituição.


Uma residência que dispõe de piscina, gabinete médico, enfermagem, fisioterapia e educação física. “Qualidade no que diz respeito ao envelhecimento ativo, com cuidados médicos e de enfermagem, espaços envolventes para desconfinar e apta a receber idosos com vários graus de dependência e pensados para responder a novos desafios, como a covid”. Ana Carrega lembra que este é “um conceito diferenciado, quer no espaço físico quer no cuidado dirigido a cada utente e será esse o caminho para um envelhecimento de qualidade”.

Francisco Aires Mateus sustenta que “além da estética do edifício, precisamos que os idosos tenham prazer de circular por estes edifícios, fazendo com que sejam um convite à convivência social, para favorecer a construção de redes sociais entre os moradores idosos que, sem a vida em comunidade, tendem à solidão”.

















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