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Foto do escritorInes Rioto

Residências séniores LGBTI+: um nicho do imobiliário em Portugal


Autores: Leonor Santos, Tânia Ferreira - 08 setembro 2021


Onde viver durante a velhice é uma das decisões mais importantes que tomamos enquanto adultos. Para os adultos LGBTI+ mais velhos, que geralmente envelhecem sozinhos – alguns sem filhos, nunca tiveram ou perderam o parceiro, e muitas vezes afastados das famílias – é ainda um desafio encontrar um lugar que seja acolhedor e onde possam sentir-se livres.


Muitos países já deram passos nesse sentido, apostando nas residências séniores LGBTI+, um nicho de investimento imobiliário atrativo com tudo para ser bem-sucedido em Portugal. João Passos, consultor imobiliário na Remax e presidente da Variações – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, explica porquê numa entrevista ao idealista/news. E damos nota de exemplos de projetos destes pelo mundo, a começar pela vizinha Espanha.


“Uma das características das pessoas da comunidade LGBTI+ nestas faixas etárias, atualmente, é o facto de terem envelhecido sozinhas. Muitas dessas pessoas não têm descendência, não têm companheiros/as (por opção ou por viuvez), e/ou foram abandonadas pelas próprias famílias. Com a revolução nos direitos LGBTI+, iniciada apenas nos anos 70/80, muitos dos membros da comunidade perderam laços afetivos com a sua família, numa altura em que havia muito preconceito e discriminação face a questões de orientação sexual e identidade de género”, explica.


João Passos não tem dúvidas de que, hoje em dia, os níveis de aceitação são muito maiores, mas garante que ainda existe muita discriminação. “À medida que vão envelhecendo, com o medo de se tornarem de novo alvo de discriminação ou perseguição, muitas pessoas LGBTI+ chegam a uma fase da sua vida em que sentem que devem renunciar à sua orientação sexual, voltando para “dentro do armário” para viverem sem medo das consequências da exposição da sua sexualidade”, frisa.

E é por isso que um dos maiores receios destas pessoas é que, com o avançar da idade e a necessidade de uma maior assistência, “o ingresso numa residência sénior represente um retrocesso na forma mais aberta como vivem a sua sexualidade e expressão de género, ao passarem a estar em contacto com residentes mais conservadores e profissionais sem experiência com esta comunidade”.


Portugal com grande potencial de investimento em residências para a comunidade LGBTI+


Em Portugal, tal como explica João Passos, ainda há poucos estudos sobre esta realidade, daí ser difícil saber exatamente a dimensão real da procura por este tipo de produto/serviço. “Por vezes, a procura surge pela criação de oferta, o que poderá acontecer neste caso.


Podemos tomar como exemplo os Centros Comunitários LGBTI+, e a sua importância dentro de uma comunidade em que, muitas vezes, o ambiente familiar, escolar ou profissional não são locais onde a diversidade sexual e identitária sejam acolhidas. Daí a necessidade de encontrar locais de convívio seguro onde o apoio de pares, bem como institucional ou residencial, se torna imperativo no bem-estar individual”, explica.


Para o consultor imobiliário, “não será difícil encontrar clientes com interesse por este tipo de serviço”. Acredita, também, que muita procura será internacional (Europa, especialmente do Centro e Norte, e EUA). “Portugal é cada vez mais procurado por estrangeiros para passarem os seus “golden years” (reforma), devido ao seu relativo baixo custo de vida, segurança e acesso a cuidados de saúde de qualidade a custos acessíveis”, diz.

“Portugal é cada vez mais procurado por estrangeiros para passarem os seus “golden years” (reforma)

Além disso, Portugal é um país com leis de proteção para pessoas LGBTI+, sendo este um critério que limita a escolha de destinos – e que pode favorecer o território nacional.


Lisboa, Porto e Algarve: um ponto de partida para residências séniores LGBTI+

Para o presidente da Variações, faria sentido investir em três grandes áreas do país, cobrindo a maior parte da população nacional, nomeadamente, Lisboa, Porto e Algarve. Não necessariamente nos centros urbanos (centro da cidade), diz, mas nas zonas metropolitanas mais alargadas, “bem servidas de transportes e zonas de lazer”. Nas residências seniores, garante, torna-se mais importante o espaço em si (a vivência faz-se muito no próprio local) do que a sua localização exata, desde que facilmente acessíveis.

“Historicamente, a comunidade LGBTI+ acabou por se concentrar nestas áreas urbanas, onde os fatores de maior aceitação na sociedade e possibilidade de anonimato permitem ter uma vida mais livre. Clientes internacionais procuram também estas zonas por uma questão de conhecimento e comodidade (proximidade de aeroporto internacional, por ex.)”, indica.


Atrair as atenções de investimento público e privado para projetos LGBTI+


Apesar de existirem muitas empresas privadas a operar no segmento das residências séniores, João Passos desconhece a existência de um projeto específico para a comunidade LGBTI+ em Portugal. “Talvez por receio ou desconhecimento”, argumenta.


“Em 2020, 22,3% da população portuguesa tinha 65 ou mais anos. Estamos a falar de mais de 2.250.000 pessoas. Se apenas 2% desta população se identificar como pertencente à comunidade LGBTI+, serão 45.000 potenciais utentes/clientes. Tendo em conta que a ocupação média de um lar de idosos é de cerca de 40 pessoas, há um potencial enorme e não explorado neste campo”, defende.

“Apesar de muitos idosos não terem propriamente vontade de entrar numa residência sénior, acredito que muita da população LGBTI+ sénior estaria muito mais recetiva a morar num local onde estivessem menos sozinhas, bem cuidadas e livres de preconceitos”, acrescenta.


“É uma questão de justiça social e garantia de direitos humanos. Tendo em atenção que as câmaras são muitas vezes dos maiores proprietários de bens imóveis, não seria certamente difícil encontrar espaços apropriados”, remata.


Habitação para séniores LGBTI+, um nicho de mercado em expansão


As residências séniores LGBTI+ (e outros projetos de habitação) ainda não chegaram a Portugal, mas já há muitos países a investirem na criação de estruturas capazes de dar resposta a este nicho de mercado. “Infelizmente, são poucos os países onde é fácil encontrar este tipo de projetos. A grande maioria concentra-se nos EUA, Canadá e Reino Unido, existindo também exemplos na Alemanha, Suécia, Espanha e poucos mais”, refere João Passos, apontando alguns casos ilustrativos.






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