Como evitar a dor pela redução de objetos significativos quando um idoso passa a morar em um residen
Maria Luisa Bestetti/
Mudar de casa geralmente induz à seleção de objetos que vamos acumulando naturalmente ao longo da vida, ainda mais quando a mudança é para um espaço mais reduzido. Para muitos, a oportunidade de organizar seus pertences ajuda no exercício do desapego, mas para outros é um sacrifício e até um sofrimento. Há ainda os que adquirem pelo desejo de status, para muitos um objetivo perseguido por anos. Já foram publicadas algumas reflexões sobre as consequências da acumulação, embora seja importante manter elementos que signifiquem momentos da própria história.
No blog de Fabíola Simões (https://www.asomadetodosafetos.com/2016/07/o-maior-patrimonio-as-viagens-que-fazemos-os-lugares-que-conhecemos.html), leem-se algumas reflexões interessantes sobre o que pode caber em uma mala:
“Nos apegamos ao nosso mundo, nossas coisas, nossos objetos… como se isso pudesse nos definir. Ter uma casa, um ou dois carros na garagem, um closet cheio de roupas e sapatos… tudo isso é bom e nos dá segurança, mas somente deixando tudo isso pra trás e seguindo com uma mala de rodinhas, podemos experimentar o que aguça nossos sentidos e nos sensibiliza por completo.”
Se somos capazes de viver uma temporada somente com os objetos que levamos em uma ou duas malas, por que manter tantos outros ao redor em nossas próprias residências? Certamente o leitor arrisca um palpite: porque na volta eles estarão lá, à espera, permitindo o resgate das emoções do reencontro. Mas a experiência deveria despertar para o fato de que podemos viver com menos, muito menos, especialmente porque, um dia, talvez tenhamos que nos desapegar definitivamente da maioria deles.
“Para viajar, basta existir”. Que você descubra o que lhe move, o que lhe comove, o que desperta seu desejo de reciclar-se perante o mundo. Que possa fazer as malas de vez em quando e sair à rua cantarolando. Que possa abandonar partes de si mesmo que não têm mais significado e descobrir novos territórios para ocupar os espaços vazios.”
A dor sentida por um idoso quando passa a morar em um residencial coletivo é de perda, tanto das referências da sua história quanto da sensação de perder o controle da própria vida. Mais ainda, de estranhamento por conviver com pessoas que não conhece e com as quais terá que compartilhar muitos momentos. A redução de objetos significativos pode ser percebida como se houvesse um roubo dos seus pertences com a ausência do que lhe é caro, mas também de ter sido arrancado do seu lugar. Se formos modulares ao longo da vida, percebendo que não levaremos nossos objetos de estimação na morte, podemos exercitar o desapego na maturidade, diminuindo a carga e permitindo que nosso mundo caiba numa mala. Assim, na velhice podemos optar pela moradia institucional sem dificuldades, evitando o sofrimento das perdas e a sensação aguda de solidão ao sentir-se um estranho, despejado naquele lugar.