Para especialista, mercado começa a valorizar funcionários mais velhos.
De acordo com Jorgete Lemos, diretora de Diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil), o mercado de trabalho precisa mudar o seu comportamento em relação à contratação de pessoas com idade superior aos 50 anos. Caso contrário, as empresas não terão talentos suficientes para dar continuidade aos negócios. “A abertura de vagas para pessoas mais velhas ainda não é uma regra estabelecida, mas algumas empresas já avançaram, criando programas específicos para a contratação desses profissionais”, comenta.
Para ela, é importante perceber que, nessa faixa etária, as pessoas ainda estão em plenas condições para trabalhar. “Além da experiência e da responsabilidade característicos da maturidade, os mais velhos costumam ser mais resilientes e oferecem melhor capacidade de negociação. Por isso, podem ser peças-chaves em qualquer equipe de trabalho”, considera. A diretora destaca, ainda, que muitos profissionais que se aposentam em empresas púbicas acabam buscando na iniciativa privada uma continuidade da vida profissional, pois não desejam ficar parados.
É o caso de Helena Mello de Carvalho, 69 anos, coordenadora pedagógica aposentada pela Prefeitura de São Paulo, que continua na ativa. Ela leciona em faculdade privada e oferece consultoria educacional porque adora estudar e trabalhar. “A ociosidade é um caminho para a depressão. Prefiro ocupar meu tempo trabalhando e em contato com os jovens, pois isso também ajuda a rejuvenescer”, diz. Segundo ela, a área de Educação não oferece muita resistência para quem deseja continuar trabalhando, mas é importante estar sempre acompanhando as mudanças.
O médico especialista em questões relacionadas ao envelhecimento, Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade Brasil, explica que os mais velhos são recursos importantes em qualquer empresa. E o mercado de trabalho já começa a dar sinais de mudança. “Será preciso vencer esse preconceito, afinal, pessoas com idade acima dos 50 anos têm experiência, desejo e necessidade de continuar trabalhando, com condições de produzir sem tantos conflitos. O mais velho não é uma ameaça aos mais jovens, ao contrário, ele pode gerenciar e conduzir situações difíceis com mais tolerância”, comenta.
O momento certo de investir na carreira
O sonho de uma formação universitária acabou sendo adiado pelo casamento e pela maternidade na vida de Dilma Daisy da Silva, 63 anos, psicóloga. Ela trancou a matrícula no quarto ano de faculdade e ainda tentou continuar trabalhando, mas, após algum tempo, com três filhos, decidiu parar. Anos mais tarde, quando o filho mais velho completou 12 anos, ela voltou e encerrou a faculdade de Psicologia, mas não clinicou. “Realizava outras atividades fora da minha área de formação e me aposentei por idade, aos 61 anos”.
Ela conta que retomar a vida profissional nessa fase foi muito inspirador. Foi quando conheceu o Projeto Tear, instituição que usa a arte para reinserir pessoas em sofrimento psíquico na sociedade, e decidiu se candidatar a uma vaga. “Montei meu currículo e me cadastrei. Fui chamada e participei de uma dinâmica. Era uma vaga apenas. Não passei de cara, mas meu nome ficou na espera. Meses depois uma nova vaga surgiu, e eu fui contratada”, conta. O novo emprego lhe fez muito bem: “Tenho 63 anos e não me sinto com essa idade. Estou só no começo”.
A diretora da ABRH - Brasil confirma que, aos que desejam uma vaga no mercado de trabalho, é preciso agir como qualquer outro candidato: “Fazer um currículo atrativo, sem menosprezar suas experiências e capacidades. Usar os canais de relacionamento para realizar networking e investir em uma ótima apresentação, vendendo sua imagem como profissional capacitado, sem se deixar-se abater pelo peso da idade”. Em outras palavras, a conquista de uma vaga deve acontecer sempre por mérito.
Empresa já aposta nos mais velhos
A ideia de abrir oportunidade aos profissionais mais experientes ainda não é realidade na maioria das empresas. Porém, algumas já perceberam esse nicho e vem oferecendo vagas para um público mais maduro, e não menos capaz. Um exemplo é a Gol que, ano passado, lançou o Programa “Experiência na Bagagem”, que integra a frente de inclusão e diversidade da companhia, denominada “Braços abertos para todos”.
Segundo Jean Nogueira, diretor-executivo de gente e cultura da Gol, mesmo antes dessa implementação, a empresa já possuía em seu quadro de funcionários colaboradores com idade superior a 50 anos. “Isso surgiu quando, por meio de estudos internos, constatamos que esses profissionais possuem alto grau de comprometimento, amplo conhecimento e motivação, além de muita experiência na bagagem, trazendo mais equilíbrio, empatia e vantagem competitiva para a empresa”, explica. Ele acrescenta que esse perfil de profissional busca visibilidade, reconhecimento de seu potencial e qualidade de vida.
Beatriz Santos e Simone Cunha
Universa
05/11/2018